terça-feira, 22 de novembro de 2022

Poços com fundo.

um tempo desses eu tava conversando com um amigo querido sobre incômodos aleatórios que eu tinha na infância, e foi muito engraçado ver a reação dele em relação as coisas mais fúteis que eu tinha agonia, por exemplo eu odiava dinossauros porque eu não achava maneiro eles serem muito grandes, o tamanho enorme deles me dava um desconforto, e não por eu ser pequena mas sim que dentro do viver deles o espaço era organizado de um jeito muito mais caótico. e bom, supreendentemente, o jeito que ele reagiu, foi com muita normalidade, como se fosse uma parte não verbal super característica de como eu sou. ou seja, em algum nível a pessoa que eu sou hoje em dia, é intrinsicamente uma pessoa que odeia dinossauros.

isso pode ser bem lunático, mas é uma analise verídica da minha personalidade, um pontinho dentre vários que se conectam e me fazem ser como eu sou, e sinceramente analisar as pessoas desse jeito bobo é algo bem engraçado, essa interação me deu conta de que isso é algo que eu pelo menos faço bem cotidianamente no meu subconsciente, e assim eu não sou do tipo de pessoa que fica pensando muito como os outros se comportam, até porque eu acho tudo relacionado a interações sociais extremamente imprevisível tal qual um filhote recém-nascido tentando entender o mundo ao redor (pra mim essa é a graça de interações não sei vocês), mas eu penso muito sobre como personagens fictícios se comportam, e eu sei que isso é bem normal mas eu tenho opiniões.

 

a analise dessas excentricidades super especificas, não verbais e intrínsecas, ou melhor esses detalhes que podem sair de um personagem, vem muito especialmente porque ele são escritos por inúmeras pessoas em vários contextos diferentes, e os tais "plot holes", ou tipo defeitos na caracterização de um personagem com consistência, são parte essencial do que forma a personalidade, profundidade e ironicamente coesão. 


um exemplo forte pra mim seriam todos os personagens do hora de aventura, que passam por tantas situações diferentes que faz com que certas pessoas cheguem a questionar a qualidade do desenho, que por assim dizer "sofre" de fato de mil mudanças de formula, tema e tom o tempo inteiro, mas o que é difícil de entender, é o quão isso é um dos principais motivos de que a série é tão bem escrita.



uma das coisas que mais me pega em hora de aventura é o quão os roteiristas conseguem arranjar muito bem, o que o espectador vê e não vê, em prol de uma relação mais humana com cada característica dos personagens. exemplo rápido, quando o finn conhece a princesa de fogo, o que acontece no fim do episodio é que ela simpatiza com o choro dele e foge da vila que ela tava atacando deixando o finn lá, sem mais conversa, sem amizade, um desenvolvimento pequeno, 15 episódios depois, na próxima vez que ela aparece no desenho, eles já não são somente amigos, como tem um interesse romântico em comum, e se beijam no final desse episodio, além de que o contexto da princesa mudou completamente, ela não tá atacando ninguém e nem tem intenções de fazer nada errado, o que em episódios seguintes foi desenvolvido como ela tentando se distanciar da maldade que o pai dela projetava nela, ou seja, o desenvolvimento todo da relação do finn com ela de um episodio pra outro foi feito completamente atrás das cortinas, e uma inconsistência dela tinha uma explicação.

da pra argumentar que o exemplo não faz sentido porque tinha uma explicação, mas a questão é que toda incoerência em caracterização, vai adicionar em algo, e isso fica muito obvio com o exemplo que eu dei, a incoerência da bondade repentina da princesa de fogo, se tornou um dos principais arcos dela durante o programa, e vários outros detalhes essenciais não vão ser explorados como esse foi, mas eles vão ser uma adição pra profundidade e imprevisibilidade pros personagens, o mais perto de uma materialização que eles poderiam receber.

é um recurso tão simples de roteiro mas que tira completamente a artificialidade da sua conexão com os personagens, e que é um padrão bem engraçado na maior parte das minhas mídias favoritas, como se fosse um pontinho dentre todas elas que as conecta de um jeito tão especial, que me ajuda a conectar com elas. 

eu recomendo os buracos